Rio - Como legítimo produto carioca, a dança veio das comunidades, executada pelos pés descalços e corpos (magriiinhos) de meninos com incrível vocação para requebrar — mas sem ‘falhar na missão’.Ao som do batidão, uma coreografia que mistura passos do funk, frevo, o ritmo africano kuduro, break e outras referências foi criada em lajes e bailes, se tornou febre entre os funkeiros e, registrada em celulares e câmeras amadoras, invadiu também o YouTube: há centenas de vídeos com jovens e crianças mostrando versões para o ‘passinho’ — ou ‘passinho do jacaré’, como também é reconhecido.
“É uma moda sem precedentes, criada dentro da comunidade. Os meninos misturam vários ritmos, mas nem têm consciência da quantidade de referências culturais da dança. Nos bailes, a galera toda faz, já estão sendo criados até duelos”, conta o DJ da Furacão 2000 Anderson França, no ar na FM O Dia.O passinho cabe em vários funks que já existem mas, de olho na mobilização da nova moda das pistas, os MCs Vakão e Sabará criaram uma trilha sonora oficial para a mistura rebolativa. A parceria deu origem ao ‘Passinho do Menor da Favela’, que já é hit. “No último baile, repetimos o funk umas dez vezes. Quando cantamos, é o auge na pista, os meninos vão criando rodinhas. Eles são incríveis, parecem que não têm osso”, diz Sabará. Os shows dos MCs são acompanhados por dois dos mais genuínos representantes da dança. Com os apelidos de Foguinho e Safadinho, Cássio Gomes, 19 anos, e Reinaldo Santos, 20 anos, foram descobertos numa favela do Grajaú. “Somos os melhores de onde moramos”, garantem os meninos, que penaram até a ‘perfeição’: “A dica é ver os vídeos e dançar em frente ao espelho. No início, a panturrilha dói demais, depois passa”.No palco, na laje, na pista, em chão de terra, eles rebolam sem pudor e ainda oferecem uma lição do que é a diversidade que forma o Rio. “Meu pai me ensinou a sambar, meu irmão curtia rap, eu sempre ouvi funk. Dançar para mim é natural, e as meninas adoram”, brinca Foguinho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário