Rio - O funk carioca está em pé de guerra, mas acertou trégua de uma semana e não haverá manifestação neste domingo na favela Santa Marta, como programado pela campanha Funk é Cultura. O adiamento para o último domingo do mês atende ao pedido do novo comandante da Polícia Militar na área, coronel Roberto Gil, recém-empossado.
"A mudança na cúpula da PM mudou todo mundo. O comandante anterior na Santa Marta tinha dito que não deixaria a gente fazer a Roda de Funk, mas o novo comandante pediu uma semana para se aproximar da comunidade e nós concordamos", explicou MC Leonardo, presidente da Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (Apafunk) e líder da campanha.
"Nosso movimento é político, é isso que tenho conversado com os comandantes da PM onde apresentamos a roda. Quando a polícia ameaçou proibir na Santa Marta, nós íamos entrar com um mandado de segurança, mas não foi preciso, porque o novo comandante nos chamou para conversar", disse.
Do outro lado, a Polícia Militar do Rio de Janeiro registra que a questão teve início na atuação do 6º Batalhão da PM, que abrange do Morro da Mangueira ao Alto da Boa Vista, passando por Tijuca, Grajaú e Vila Isabel. No último dia 10, atendendo a reclamações de moradores, equipes do batalhão estiveram no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, e no morro do Salgueiro, na Tijuca, antes da realização de bailes programados.
"Verificamos se tinham autorização e se atendiam às determinações. Como não se enquadravam em nenhuma das condições, os bailes não aconteceram", informou o relações públicas da PM, major Oderlei Santos.
A PM rechaça a acusação de impedir qualquer atração cultural ou religiosa e, de acordo com o major, age apenas movida pela sociedade. "A PM vai até a festas caseiras, em condomínios, quando chamada, porque os organizadores passam da hora e fazem barulho, ou brigam, seja pelo que for o chamado", garantiu o major.
O protesto da Apafunk não tem como alvo central a ação da Polícia Militar, mas sim a lei estadual, de junho do ano passado, sancionada pelo vice-governador Luiz Fernando de Souza, o Pezão, e cujo parágrafo terceiro diz exige que, para realizar esse tipo de baile ou qualquer outra manifestação cultural, os organizadores precisam solicitar permissão, com 30 dias de antecedência, à Secretaria de Segurança.
A lei resultou de projeto do então deputado Álvaro Lins, hoje cassado e preso por corrupção, no presídio Bangu 8. Chefe de polícia no governo Anthony Garotinho, ele compartilhava da opinião geral de que o funk era reduto de traficantes e criminosos em geral, sobretudo a partir da popularidade de grupos, como o Bonde do Tigrão, e outros que empregam vocabulário característico da marginalidade.
Para derrubar a lei, a Apafunk e outras instituições culturais contam com o apoio político de alguns deputados estaduais, entre eles Marcelo Freixo, do Psol, autor de projeto revertendo seu caráter restritivo.
A trégua até o próximo domingo parece ser apenas um breve período para o movimento Funk é Cultura ganhar mais força e intensificar as Rodas de Funk em comunidades carentes, em desafio à Polícia Militar e à legislação proibitiva dos bailes tão populares que atraem por volta de um milhão de jovens todos os meses no Rio de Janeiro.
As informações são da Agência Brasil