Em agosto, ele grava trabalho que alterna show e minidocumentário, no qual vai falar sobre seu estilo de vida.
Mr. Catra em seu estúdio: sempre cercado de amigos, mulheres, filhos, bebidas e novos empreendimentos
Por Eliane Santos
Do site EGO, no Rio
O tom de voz é inconfundível, o estilo de vida também. Mas quem acha que Mr. Catra é só um bom vivant, está enganado. Ele trabalha, e muito. A diferença está no jeito em que Wagner Domingues Costa, 42 anos, 20 anos de carreira e o mesmo número de filhos, conduz a coisa. Catra montou o movimento “Sagrada Família”, que a princípio seria um selo para lançar novos talentos no mundo funk. Mas a coisa cresceu e agora reúne funkeiros, uma rádio – que deve ser lançada na internet até o fim do mês -, e uma revista em quadrinhos com conteúdo adulto que vai retratar o mundo do funk, e que deve ser lançada no mês que vem.
Mas não é só isso. Catra também anda às voltas com o lançamento de seu primeiro DVD em solo brasileiro, que vai reunir a gravação de um show com a participação de convidados e um minidocumentário sobre sua vida.
“Até lancei um DVD em 2003, mas só na Dinamarca, Suécia e Normandia. Ele tinha um conteúdo muito avançado para o público brasileiro. Não gravei DVD por aqui antes porque sou um operário do funk, trabalho todo dia, não sou nenhum milionário, tenho 20 filhos, 10 sobrinhos, duas mulheres, fora a minha rapaziada toda. A conta é grande”, diz ele modesto e pontuando a fala com sua indefectível gargalhada.
Além de todos esse projetos, Catra planeja aumentar sua prole, que até o fechamento desta matéria, estava em 20 filhos. “Quero ter os filhos que Deus me permitir, e a melhor parte é que é sem inseminação, só no contato físico (risos). Agora vou fazer uma campanha que é ‘Mister Catra rumo aos 30’. Mas vamos ajudar o papai a criar, hein?”, brinca.
Para conhecer mais desse cara que é conhecido como o ‘rei da putaria’ – que segundo ele é o sexo com alegria -, de seus projetos e suas ideias, o EGO foi até o estúdio dele, em Vargem Grande – na Zona Oeste do Rio, para bater um papo com essa figuraça. (Veja mais no vídeo)
EGO:O clima na sua casa é sempre assim? Tem sempre festa?
MR.CATRA: Aqui em casa é assim todo dia, a gente liga o som, chama a família. E família para mim não é só meus filhos, não. Mas também meus amigos, todos os que me cercam.
Por que resolveu gravar o DVD só agora?
Gravei um DVD em 2003, mas só foi lançado na Dinamarca, Suécia e na Normandia. Ele tinha um conteúdo muito avançado para o público brasileiro. Não gravei antes porque não sou um artista, sou um operário do funk, trabalho todo dia, não sou nenhum milionário, tenho 20 filhos, 10 sobrinhos, duas mulheres, fora a minha rapaziada toda. A conta é grande.
Duas mulheres só?
Antes, eu tinha três, mas mandei duas embora e fiquei com duas.
Como assim? Que conta é essa?
Ué? Está certa. Tinha três, mandei duas embora e fiquei com duas(risos).
Mas as pessoas pensam que, com tantos shows, você está com uma condição boa de vida.
Tenho uma condição financeira invejável. Se eu quiser andar de iate, eu ando, se eu quiser viajar para Europa ou para Dubai eu vou. Mas não sou rico.
Por que não?
Porque não tenho dinheiro em banco, não tenho fazenda.
Esse é seu critério de riqueza então? Ter conta em banco?
Quem tem amigo, não precisa ter dinheiro.
E quando o operário do funk achou que precisava partir para outro projeto? Para um DVD?
Venho fazendo show há um tempão, mas não tem registro meu, e minha vida é uma festa. Achei que estava na hora de mostrar isso para as pessoas. Também estou fazendo um disco de samba, com composições minhas e de parceiros como Márcio Local, Serginho Meriti. Mas isso é para o final do ano.
Por isso a ideia de intercalar imagens de um show com um minidocumentário mostrando o seu dia a dia?
Quero mostrar um pouco da minha vida, que é diferente. Quero que meus amigos falem um pouco como eu sou. As pessoas vivem muito em um mundo de sensações. Sensação de poder, de segurança. É muito mais gostoso viver na realidade, e eu vivo na realidade, no paraíso.
Mas você transita nos dois mundos, não? Quando vai para o palco cantar, você volta para esse mundo em que as pessoas vivem, não?
Isso é uma pregação. É espiritual. O sucesso não pertence a mim, o sucesso não é meu. Sou apenas um instrumento naquele momento.
E dá para pregar falando sacanagem?
Sacanagem? Sacanagem é a maior sacanagem. Putaria é sexo com alegria.
Reformulando: dá para pregar falando putaria?
A coisa mais sagrada é o gozo. Então, como é que não dá para pregar? Tudo isso é o paraíso. Sou eu curtindo o meu funk, os meus filhos, o cheiro das minhas plantas, as minhas mulheres, trabalhar com o cara que me mostrou o que é o funk (refere-se ao funkeiro Cidinho, da dupla Cidinho e doca, sucesso na década de 90), com o Yuka, com o Seu Jorge. Agora, as pessoas fazem tanta sacanagem que estão esquecendo de gozar. Mas você só goza plenamente quando ama.
Mas no início da sua carreira, você fazia uma pregação diferente, que falava de tráfico e violência nas favelas do Rio, não?
No inicio era outra proposta. Bati em uma realidade que as pessoas confundiram. Eu fazia uma crônica do dia a dia, não apologia. No Brasil, jogar é crime. Então passar filme sobre Las Vegas é apologia? Se mostrar boca de fumo na televisão é apologia? Não é a lei? A mesma lei que prende é a que manda soltar.
E quando foi que você mudou o seu tipo de pregação?
Foi logo depois que eu voltei de Israel. Descobri a realidade lá depois que meu espírito morreu. Passei a ter uma outra visão da vida. Passei a ser um judeu salomônico.
Mas brasileiro, de um modo geral, considera o sexo muito mais ligado à sacanagem, ou putaria - como você prefere - , do que exatamente à espiritualidade?
Isso acontece porque a mulher brasileira não sabe o lugar de uma mulher sagrada. Todos os mamíferos carregam as fêmeas com que se relacionam para a vida inteira, menos os homens. Isso é uma irresponsabilidade, e a mulher ocidental aceita isso. Ela prefere que ele saia com uma puta na rua do que com uma mulher virtuosa. Isso é burrice. O certo seria a primeira mulher escolher as demais mulheres com que seu marido vai se relacionar, isso fortaleceria a família. Não é que o cara vai trair. É da natureza dele. Mas é difícil implantar isso na sua vida, enfrentar a maioria, ser diferente.
Você está com 20 filhos. Pretende continuar tendo mais?
Meus filhos são a melhor parte da minha vida. Vou ter quantos Deus me permitir. E a melhor parte é que é sem inseminação artificial, só no contato físico (risos). Agora vou fazer uma campanha, depois de chegar aos 20, que é ‘Mister Catra rumo aos 30’. Mas vamos ajudar o papai a criar, hein? Tenho que fazer essa campanha. Faço o trabalho todo, suo à beça, para depois nego ficar de caô? Nada, disso! Digo logo me dá meu filho para cá.